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Stock Car: nessa equipe se fala alemão

Por Agencia Estado
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Achtung! Das ist der letzte Runde so Vorsicht weil der Sieg sicher ist! A instrução ? Atenção! É a última volta e, se você tiver cuidado, a vitória é certa!, em português ?, pode perfeitamente ser dada pelo chefe de uma equipe que disputa o Campeonato Alemão de Turismo a seu piloto durante uma prova. E também na Stock Car brasileira. Estranho? Não se a mensagem for dirigida a David Muffato ou a Raul Boesel. É que eles são pilotos da Repsol-Boettger. Equipe brasileira, mas onde prevalece o idioma alemão. A explicação para isso é simples: a equipe é de Timbó, cidade do interior catarinense colonizada por alemães e italianos. Seu dono, Ereneu Boettger ? há três anos associado à Repsol ?, é um simpático senhor de 63 anos, ligado ao automobilismo há mais de 30. E que optou por ter, entre seus funcionários, nativos de Timbó, que tem cerca de 30 mil habitantes. Daí ter vários descendentes de alemães entre seus 14 funcionários. "Como muitos deles dominam o idioma, preferimos nos comunicar em alemão. Até porque toda a literatura esportiva na qual nos baseados está escrita em alemão´´, explica Ereneu. Isso não quer dizer que o português é ignorado. "É bem dividido. Falamos em alemão as coisas que os outros não devem ouvir´´, revela o dono da equipe sem, no entanto, dar exemplos. Em nenhum idioma. As conversas em alemão, porém, são tão corriqueiras que há pessoas na equipe que não se sentem à vontade quando falam português no trabalho. "Em alemão é melhor, principalmente quando discutimos detalhes técnicos. Me sinto mais seguro´´, admite Harold Michelson, desde 1971 com Boettger. "As pessoas estranham quando percebem que não estamos falando em português, mas para nós é melhor.´´ Harold tem como colegas, entre outros, Robert Koepsel, Roberto Bündchen (não é parente da Giselle, avisou), Inacio Hoelgelbaum e Giovanni Boettger. Giovanni? "É. Coloquei um nome italiano no meu filho porque antigamente, na minha cidade, havia muita discriminação dos alemães com os italianos, e também ao contrário. Eu tive problemas com meus pais na juventude porque namorei uma italiana. Por isso batizei meu filho com um nome italiano. Sou contra qualquer tipo de discriminação´´, decidiu Ereneu, que tem no seu time cinco descendentes de italianos. Quando criança, ele sofreu o problema, literalmente, na pele: "Em casa, a gente só falava alemão. Aí, na escola, cheguei a apanhar de uma professora porque tinha dificuldade em falar determinadas palavras em português por causa do meu sotaque germânico. Fui humilhado´´, recorda, magoado. "Naquela época, a professora podia bater.´´ Isso, porém, é passado. Ereneu, hoje, fala o português corretamente, mas prefere o alemão por uma questão de praticidade em determinadas situações. Como quando recebe Alfons Hohenester, um engenheiro alemão que dá assessoria à sua equipe e vem ao Brasil sempre que necessário. "Ele cobra 57 euros por hora de trabalho, que conta desde que sai de casa na Alemanha, mas compensa. Inclusive porque, nos fins de semana, ele me dá um rabatt (desconto) de 30%´´, explica, bem-humorado.

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