Todt: gosto de manipular a história

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Por Agencia Estado
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Nem todo mundo sabe, mas o mesmo Jean Todt, diretor-esportivo da Ferrari, responsável pela decisão de mandar Rubens Barrichello deixar Michael Schumacher ultrapassá-lo na Áustria, já esteve envolvido em situações até mais constrangedoras. O exemplo mais conhecido é o do Rali Paris-Dacar de 1989. Como diretor da Peugeot, Todt decidiu num cara ou coroa qual de seus pilotos, Jacky Ickx ou Ari Vatanen, venceria a competição. A vantagem deles no rali era tão grande quanto a da Ferrari nesta temporada. Não é folclore. Diante da disputa que se estabeleceu entre Ickx e Vatanen, Todt não teve dúvida: chamou os dois, diante dos jornalistas, e, em pleno deserto do Mali, atirou uma moeda para cima. Vatanen escolheu cara e ganhou o direito de vencer o importante Paris-Dacar. Os interesses de sua equipe, assim como os da Ferrari na Áustria, estavam acima dos de seus pilotos. Só que no caso de Schumacher e Barrichello a moeda é viciada. Se o pequeno dirigente, que os franceses dizem ter complexo de Napelão, a jogasse para o alto, o resultado seria sempre favorável ao alemão. E pensar que Todt já sentiu na pele as alegrias e frustrações de participar de competições como co-piloto de rali. Em 81, por exemplo, foi campeão do mundo de construtores com a Talbot. Em seguida, o presidente da empresa, Jean Boillor, convidou-o para assumir a direção esportiva da equipe, agora denominada Peugeot Talbot Sport. Sob sua direção, a organização conquistou o Mundial de Construtores de Rali de 84 e 85 e quatro edições do Paris-Dacar. Em 92, a Peugeot venceu o Mundial de Esporte-Protótipos e, naquela temporada e na seguinte, as 24 Horas de Le Mans. Foi a extraordinária capacidade administrativa, caracterizada sempre pela defesa dos interesses do time, que o levou para a Ferrari. Apenas um ano de mandato havia sido suficiente para Luca de Montezemolo, presidente da empresa, compreender que o problema da escuderia era de planejamento e falta de solução de continuidade. Faltava alguém com mão de ferro para impor uma direção e cobrar com energia o cumprimento das metas. Todt estreou na Ferrari no GP da França de 93. Pelo visto na Áustria, a mão de ferro não se abrandou com o tempo. Barrichello já havia sido vítima de Todt no Canadá, em 2000 ? no fim da prova, sob chuva, o francês impediu Rubinho de passar Schumacher e vencer. Em 2001, no mesmo GP da Áustria, ordenou a Barrichello que deixasse o alemão ultrapassá-lo para assumir o segundo lugar. Domingo, essa história de concessões teve um desfecho de ouro, com a imposição para que o brasileiro cedesse a vitória ao alemão. Para que o seu primeiro piloto conquistasse 4 pontos a mais no Mundial, Todt resolveu enfrentar o mundo. Sua reconhecida inteligência foi posta em xeque.

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