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Um gol a cada volta

Por Reginaldo Leme
Atualização:

Ao receber de volta a Fórmula 1 depois de 23 anos, o México retribuiu com o maior público do ano (mais de 360 mil pessoas nos três dias) e uma festa que não se viu em nenhum outro GP este ano. Cada vez que o mexicano Sergio Perez passava diante das arquibancadas lotadas, a vibração era semelhante à de um gol. Na corrida, por não ter repetido erros anteriores, Rosberg voltou a sentir o gostinho de uma vitória e, com isso, praticamente garantiu o vice-campeonato porque o rival nessa briga, Sebastian Vettel, nunca errou tanto em um mesmo dia. Dos erros menores aos maiores, o tetracampeão acabou deixando no muro a chance de continuar vice-líder. A briga entre os dois alemães pelo vice pode terminar no Brasil porque Rosberg, que estava quatro pontos atrás, agora está 21 à frente. Para uma única pessoa no paddock a vitória de Rosberg não foi tão merecida quanto parece. Não satisfeito com o tri garantido uma semana antes, Lewis Hamilton tem certeza de que houve interferência da Mercedes para tentar levantar o moral do alemão. Desde o momento em que foi chamado para uma segunda troca de pneus, como Rosberg tinha feito, Hamilton chegou a pedir explicação para a equipe porque não sentia necessidade deste segundo pit stop. Só depois de insistentes chamados, mesmo sem estar convencido, resolveu acatar a recomendação do engenheiro Peter Bonnington. O cumprimento entre Hamilton e Rosberg após o GP do México foi frio, mas, pelo menos, existiu. Depois do episódio mais comentado do ano, que foi o dos bonés em Austin, nem isso era esperado. Tudo se passou na antessala do pódio dos EUA, onde Hamilton tinha vencido graças a um erro de Rosberg nas voltas finais. O alemão, sentado em um canto da sala tentava digerir o resultado. A vitória quase certa havia se transformado na derrota mais doída, que dava título de campeão ao rival.É habitual uma pessoa da Pirelli deixar em cima da mesa três bonés com os números 1, 2 e 3, que os pilotos devem usar no pódio de acordo com a colocação de cada um. Os bonés ficaram em frente a Hamilton, que entregou o de terceiro lugar nas mãos de Vettel e jogou o de segundo no colo de Rosberg. Para alguns ficou clara a intenção de desdém do inglês como se quisesse dizer: “Toma, este é o lugar que lhe cabe”. Para outros, ele jogou o boné apenas porque Rosberg estava mais distante. Seja como for, o alemão não teve dúvidas. Pegou o boné e jogou de volta contra o corpo de Hamilton. O inglês respondeu com o olhar de um inimigo. No México os bonés foram substituídos por sombreiros típicos do país, e a Pirelli entregou um por um para os três do pódio. Hamilton deu adeus ao sonho de igualar o recorde de 13 vitórias no ano, de Schumacher em 2004 e Vettel em 2013. Mas este foi o melhor dos seus nove anos de carreira. Fez um campeonato em que superou rivalidades sem se meter em encrencas, conquistou 11 poles e dez vitórias até agora. No lugar de alguns erros cometidos, este foi o campeonato que ele ganhou justamente nos erros do maior rival. É um tricampeão mundial como seu ídolo Senna, e até com duas vitórias a mais. Com um total de 43, ele passa a ser o terceiro maior vencedor da história. E, aos 30 anos, ninguém duvida que o seu próximo alvo é alcançar as 51 de Alain Prost. O que sobra agora para a gente conferir é a acirrada guerra entre os finlandeses Raikkonen e Bottas, que começou na Rússia e continuou no México. Isso levou a Ferrari a um dos resultados mais negativos de sua história, quebrando uma sequência de nove anos sem sofrer um duplo abandono. A última vez tinha sido no GP da Austrália de 2006, ainda na época de Schumacher e Massa. Este fim de semana, fora a Fórmula E na Malásia e a MotoGP decidindo o título em Valência em um ambiente tumultuado pela punição a Valentino Rossi por ter derrubado Marc Marquez com uma joelhada há duas semanas, temos Stock Car em Tarumã. Trabalho não falta nesta penúltima etapa do campeonato, mas o clima para mim está garantido desde que o gerente do hotel me entregou a chave do apartamento dizendo que ele tinha sido ocupado até quinta-feira por um dos integrantes da banda Credence Clearwater, uma das minhas favoritas. 

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