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Vale tudo por um bom lugar no GP do Japão

Por Agencia Estado
Atualização:

Vale tudo na disputa por um bom lugar no camping, até estacionar o carro atravessado para ocupar duas vagas. Com certeza, os promotores do evento irão conviver com os penetras novamente. Aqueles que, ou por não terem dinheiro ou gostarem de uma aventurazinha, pulam o muro para assistir à corrida. Na área de paddock, vez por outra é possível se observar alguém sem credencial, ao lado de Michael Schumacher, na maior cara-de-pau. Cambistas há também. Não, não se trata do GP Brasil, mas do GP do Japão, para espanto de muita gente. Assim como a fidelidade japonesa às rígidas regras de comportamento de sua sociedade talvez seja o que a mais caracterize para os ocidentais, há também nela os vícios mais comuns em culturas distintas. Nesta quarta-feira à noite já não existiam locais disponíveis para quem desejasse acampar o fim de semana no autódromo, hábito comum na torcida, já que Suzuka fica distante, cerca de 400 quilômetros de centros importantes como Tóquio e Yokohama, as duas maiores cidades japonesas. Motivo: alguns espertinhos colocaram seus carros paralelos ao que seria uma guia e não perpendiculares. Buscavam mais conforto cinco ou seis deles, e outros, mais solidários apenas esperavam amigos. Quando os japoneses transgridem uma norma e são expostos sentem-se criminosos. Querer arrancar deles uma declaração é escancará-los à verdade e isso pode levá-los a cometer haraquiri, tipo de suicídio comum na época dos clãs, por envergonharem-se de uma derrota, por exemplo. Saem correndo literalmente ao perceberem que um repórter busca informações sobre o porquê daquele comportamento. Mas ao menos na sua consciência o gesto lhe pesa, o que já pode ser considerado um avanço. É nítido o receio não só do vexame público, mas também da ação policial, bastante respeitada no Japão. O que chama a atenção também é como os confrontos entre seus cidadãos são evitados. O motorista com esposa e filha que buscava nesta quarta-feira à noite, desesperadamente, uma vaga no camping não questionou sequer os que ficaram com duas deles. Condenam, mas no seu interior. Em outra sociedade, na defesa de seus direitos, no caso legítimo, poderia haver até briga. Em contrapartida a essas manifestações de individualismo, o camping do GP do Japão é, seguramente, o mais organizado, silencioso e limpo do mundo. Tremor - Permanecer algumas semanas no Japão exige desprendimento de quase todos seus hábitos para os ocidentais. Os japoneses da área de Suzuka, Kyoto, Nara, Osaka e Kobe, em especial, sudeste da ilha de Honshu, convivem com naturalidade com um fenômeno que deixa a maioria das pessoas apavoradas: terremotos. Um leve tremor de terra, terça-feira, capaz de despertar um jornalista brasileiro, logo depois do amanhecer, e enviá-lo à recepção do hotel de pijama, deve gerar gargalhadas nos japoneses, embora eles não as expressem. Ora, o que é um tremorzinho de terra de 2 ou 3 graus na escala richter quando por essa região até os que atingem 6 graus, mas breves, são costumeiros? Isso para não mencionar as enormes e desgastantes dificuldades de comunicação, diferenças na culinária, concepção da vida de modo geral. Mas como a grande maioria das pessoas que trabalha na Fórmula 1 sempre afirma, conhecer o Japão é uma experiência extraordinária. Apesar dos sustos.

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