PUBLICIDADE

Deivid volta a enxergar um futuro na carreira de jogador de vôlei

Central do Funvic/Taubaté chegou a ficar cego de um olho, recebeu transplante de córnea e voltou para ser campeão paulista

Por Alessandro Lucchetti
Atualização:

Muitas competições escolares ou de várzea presenteiam seus campeões com taças mais bonitas do que a do Campeonato Paulista de vôlei. A conquista do título, que o central Deivid Júnior Costa celebrou no último sábado, pelo Funvic/Taubaté, em tese pouco representa para quem já foi campeão da Superliga e tinha três títulos do próprio estadual no currículo. Mas o central se emocionou de verdade ao ver o brilho do caneco. Na verdade, ficou feliz pelo simples fato de enxergá-lo. Deivid teve que se submeter a um transplante da córnea do olho esquerdo por ter sido acometido de ceracotone, doença que reduz a rigidez do colágeno da córnea, dando-lhe um formato mais cônico. A pressão intraocular acabou por romper a córnea esquerda do jogador. Sem alternativa, Deivid teve que passar pelo transplante. Os pontos estouraram algumas vezes, e o período de afastamento, que era para ter sido de quatro meses, dilatou-se para 18. “Achei que a minha carreira no vôlei tinha terminado, porque ninguém consegue ficar parado tanto tempo e continuar jogando num time de ponta.” Felizmente para Deivid, ele foi um dos três jogadores do modesto elenco da temporada passada de Taubaté mantidos para esta. Nesse ínterim, o time recebeu uma injeção polpuda de verba de seu patrocinador e se transformou numa superequipe, com Sidão, Lipe, Rapha e Felipe, todos da seleção brasileira que foi vice-campeã mundial na Polônia, além do veterano Dante, campeão olímpico em 2004, e do valorizado Lorena.

Deivid defende o poderoso Funvic/Taubaté Foto: Nilton Cardin/Estadão - 28/10/2014

PUBLICIDADE

Como Sidão se machucou no primeiro jogo da final, Deivid teve que botar seus óculos especiais, que protegem os poucos pontos cirúrgicos ainda remanescentes, e foi à luta na segunda partida. Antes, passou por “sessões de terapia” com seus colegas para fortalecer a confiança e encarar a responsabilidade de substituir um titular da seleção brasileira contra o fortíssimo Sesi, um dos candidatos ao título da Superliga. “Voltei a jogar só em junho e ainda não estou do jeito que almejo. Tem algumas coisas que quero fazer, mas meu corpo não acompanha. Dormi muito mal nesta semana que passou. Mas conversaram muito comigo. O Rapha me orientava todos os dias, e o Lorena, que chamo de pai, também me deu força. É engraçado, mas quando vi o ginásio lotado, a ansiedade passou. Até me disseram que joguei bem, mas acho que fui razoável. O importante é que estou jogando”. Antes de passar pela cirurgia, com 21 graus de astigmatismo, Deivid bloqueou alguns vultos. “Lembro que fomos disputar os Jogos Regionais num ginasinho baixo e escuro em Caraguatatuba. Acho que joguei por instinto. Meu oftalmologista disse que, o que a gente não enxerga totalmente, complementa com a imaginação. Acho que é isso”.

O transplante ajudou o gigante de 2,06m e 26 anos a enxergar a vida com outra perspectiva. Campeão e eleito melhor jogador do Mundial juvenil de 2007, na Índia, Deivid é uma promessa que não chegou a vingar como se esperava. “Eu gostava bastante da noite, estava desfocado do vôlei. Acho que esse problema no olho aconteceu para eu dar uma guinada na vida. Sou outro cara”.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.