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Maurício na história do vôlei mundial

Na quarta-feira, contra a Holanda, o levantador chega à marca impressionante de 500 partidas pela seleção, um feito até para o vôlei mundial. Nesta terça, no jogo contra a Espanha, vai ser homenageado pela CBV.

Por Agencia Estado
Atualização:

O levantador Maurício não gosta nem de pensar na aposentadoria ? ?dói no coração, não sei o que vou fazer...? Quer agüentar firme até a Olimpíada de Atenas, em 2004, para buscar mais uma medalha de ouro. Mesmo após 15 anos vestindo a camisa do Brasil e com currículo que inclui o título olímpico em Barcelona (1992) e o bicampeonato da Liga Mundial (1993 e 2001), o levantador Maurício sente-se empolgado com a rotina de treinos e jogos. Principalmente com os jogos. Completará na quarta-feira, contra a Holanda, pela Liga Mundial, 500 partidas com a seleção brasileira. Um recorde. Nenhum outro brasileiro atingiu a marca ? Carlão chegou a 382, William, 358, e Bernard, 341. No mundo, apenas os cubanos Raul Diago e Ihosvany Hernandez e o holandês Peter Blangé superam essa façanha. A Confederação Brasileira de Vôlei fará uma homenagem à Maurício nesta terça-feira, quando o Brasil enfrenta a Espanha, às 15h30, pela Liga Mundial, no Recife. Qual o combustível? ?Paixão. Eu realmente adoro o que faço e quero jogar em clube e em seleção até 2004. Para mim um é extensão do outro. Depois, não sei... acho que terei de parar?, afirma Maurício, pai de João Victor, de 2 anos, e da recém-nascida Maria Eduarda. ?Agora não sou sozinho... Tem a família.? Breve ausência - De todos esses anos, Maurício, que disputou quatro olimpíadas (1988, 1992, 1996 e 2000) e três mundiais (1990, 1994 e 1998), pediu dispensa do grupo apenas por três meses, em 1997, ano em que também se casou com Roberta. Disse que queria saber como era ficar fora do mundo das viagens e dos jogos seguidos. Sentiu saudade e voltou. ?Já havia combinado com o Radamés (Lattari, ex-técnico da seleção) que daria um tempo. Na minha cabeça não era despedida?, lembra o levantador, que não gostou da fase em que Lattari era o treinador do Brasil. Fez campanha abertamente para que Bernardo Rezende, o Bernardinho, assumisse o cargo. ?Não sei o que o Lattari acrescentou para a minha evolução pessoal. E de fato ganhei mais motivação com a chegada de Bernardinho. Confio nele, na vitória ou na derrota. É o melhor treinador do mundo.? O que falta - Maurício, que também é hexacampeão sul-americano (89, 91, 93, 95, 97 e 2001), heptacampeão brasileiro (89/90, 90/91, 91/92, 95/96, 99/00, 2000/01 e 2001/02) e foi considerado o melhor do mundo na posição, por três vezes (em Barcelona, na Liga de 93 e no ano de 95), sente que ainda falta um título que nem ele e nem o vôlei brasileiro têm. Justamente o de campeão mundial adulto ? a competição será na Argentina, de 28 de setembro a 13 de outubro. ?Poderíamos ter conseguido em 1994, na Grécia. Deixamos escapar porque o grupo estava contaminado pela vaidade, interesses pessoais, fama...? Primeira vez ? Maurício começou no vôlei aos 14 anos, no Fonte São Paulo, de Campinas. Ficava o dia inteiro no clube. ?Jogava com o mirim, o infanto, o juvenil... pedia para participar dos treinos nem que fosse para pegar bola. Era fominha. Chegava às 15 horas e só ia embora depois da 20 horas.? Em 1987, ainda em Campinas, foi convocado para a seleção brasileira pela primeira vez, pelo técnico coreano Young Wan Sohn. Tinha 18 anos. Estreou no grupo adulto em 22 de abril de 1988, em Santiago de Cuba, na disputa da Copa Cuba, na qual o Brasil derrotou os cubanos por 3 sets a 0 ? o primeiro jogo com a seleção brasileira foi em 1987, na categoria juvenil, em torneio amistoso internacional, no Peru. ?Seleção era um sonho, sempre foi o grande objetivo. Ligava todos os dias da concentração do adulto para a minha casa. Como foi fascinante...? Cortado para o Sul-Americano, Maurício voltaria no ano seguinte, com o técnico Bebeto de Freitas. ?Quando fui assistente de Bebeto de Freitas na seleção, em 1988, o Maurício tinha 20 anos. Era o terceiro levantador (William era o titular e Elberto, o reserva), porém mais talentoso que todos. Só lhe faltava quilometragem?, declarou Bernardinho, hoje técnico da seleção adulta. ?Lembro muito bem da força que ele me deu. Nos jogos, ficava falando ?aquece, aquece? para eu estar sempre pronto para entrar em quadra?, observa Maurício, que também só tem elogios à Bebeto. ?Foi o meu mestre, me ensinou muito. Sei que nasci com dom, mas foi ele quem me ensinou a utilizá-lo.? Ainda como reserva de William, mas já no posto de segundo levantador, disputou sua primeira Olimpíada, em Seul/88. Na semifinal, contra os Estados Unidos, torceu o pé. O Brasil foi quarto, a Argentina bronze. O Sul-Americano de 89 foi a marca da seleção que conquistaria o ouro na Olimpíada de Barcelona, em 1992 ? ?a nossa confirmação?. ?No grupo da geração de prata, eu estava mais para completar o time. Depois, minha responsabilidade ficou maior: era preciso manter o que os jogadores da outra seleção haviam conseguido.? Ouro olímpico ?Maurício perdeu o avião para Barcelona (havia esquecido o passaporte, assim como Janelson) e só embarcou rumo ao ouro olímpico no dia seguinte. Com média de 24 anos, o Brasil, sob comando de José Roberto Guimarães, foi campeão invicto, perdendo apenas 3 sets em 8 jogos. ?Sou fã do Zé Roberto. Tenho muito carinho e respeito pelo seu trabalho.? E Zé Roberto retribui. ?Quando ele parar, o Brasil vai sentir muito. Do mesmo nível não existe outro.? Quem estava em Barcelona não tinha a extensão do que a conquista representaria. A chegada foi um espetáculo para os jogadores. Mas, após a fase de fama e dinheiro, começou a guerra de vaidades. ?Não conseguíamos administrar. Era convite para uns, não para outros... Poderíamos ter sido uma geração ainda mais vitoriosa, ter ganho o título Mundial na Grécia, em 1994... (ficaram em quinto) e foi por nossa culpa mesmo.? Além do Mundial, o Brasil não foi bem na Olimpíada de Atlanta (terminou em quinto), em 1996. Foi quando Radamés Lattari assumiu o comando e lançou novas caras, como Gustavo, hoje considerado um dos melhores bloqueadores do mundo. Recomeço - Com Bernardinho desde 2001, a seleção voltou aos pódios. No ano passado conquistou todos os títulos disputados ? cinco, incluindo o da Liga Mundial. Só escapou o da Copa dos Campeões, na qual ficou com o vice-campeonato. ?É um artista, mas precisa ser mais operário. Ao invés de admirar as jogadas que faz, tem de defender mais, um fundamento de operário. Como levantador é magnífico?, observa Bernardinho. Maurício concorda com o treinador ? ?às vezes, perco a concentração? ? e aponta Loy Ball, dos Estados Unidos, como o melhor levantador do mundo. ?É ter confiança, habilidade, ser persistente, rápido na conclusão do toque, saber dosar jogadas de risco...? Características que ele mesmo já cansou de esbanjar.

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