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Minas afasta Maurício Souza após comentários homofóbicos e pressão de patrocinadores

Além disso, o atleta terá de se retratar publicamente por seus atos e receberá uma multa do time mineiro

Foto do author Ricardo Magatti
Por Ricardo Magatti e Marcos Antomil
Atualização:

A diretoria do time masculino de vôlei do Minas Tênis Clube decidiu afastar temporariamente o jogador Maurício Souza, por causa da pressão de patrocinadores após ele ter feito diversos comentários homofóbicos em suas redes sociais. Além disso, o atleta terá de se retratar e receberá uma multa.

Em comunicado enviado ao Estadão, o Minas Tênis Clube afirmou que o presidente Ricardo Vieira Santiago se reuniu com Maurício Souza na tarde desta terça-feira para comunicar ao jogador o seu afastamento "por tempo indeterminado". "O atleta também recebeu uma multa e foi orientado a fazer uma retratação pública imediata", informou o clube.

Minas afasta Maurício Souza após comentários homofóbicos e pressão de patrocinador. Foto: William Lucas/CBV

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A retratação veio de forma tímida e o jogador preferiu utilizar o Twitter, rede social em que tem poucos seguidores e que usa com frequência muito menor em relação ao Instagram, onde publicou as postagens de cunho homofóbico para os seus 250 mil seguidores. "Pessoal, após conversar com meus familiares, colegas e diretoria do Ccube, pensei muito sobre as últimas publicações que eu fiz no meu perfil. Estou vindo a público pedir desculpas a todos a quem desrespeitei ou ofendi, esta não foi minha intenção", comentou o jogador. "Tenho refletindo muito e reitero minhas desculpas pelo posicionamento", prosseguiu.

O Minas Tênis Clube também disse que "não aceita e não aceitará manifestações intolerantes de qualquer forma" e prometeu que  intensificará "campanhas internas em prol da diversidade, respeito e união, por serem causas importantes e alinhadas com os valores institucionais".

Segundo o clube, não houve, em nenhum momento, a ameaça de outros atletas deixarem a equipe em protesto ao afastamento de Maurício Souza. O líbero Maique foi um dos atletas do elenco que se posicionou. Ele usou suas redes sociais para assegurar que não assinou nenhuma carta em apoio à posição de Maurício.

"Eu não assinei nada! E isso não me inclui. E continuo lutando pelos meus direitos e de nossa comunidade e de todo e qualquer tipo de preconceito. Isso que estão espalhando de eu apoiar algo é fake", afirmou. Maique é gay e comemorou a pressão que os patrocinadores da equipe fizeram em relação às declarações homofóbicas do central. 

Nesta terça-feira, 26, Fiat e Gerdau se posicionaram e deixaram claro que não compactuam com qualquer tipo de preconceito. A gota d'água foi uma postagem recente do jogador, que também atua pela seleção brasileira e esteve nos Jogos Olímpicos de Tóquio, criticando a editora DC Comics por revelar em uma história que o personagem do Super-Homem era bissexual.

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"Hoje em dia o certo é errado, e o errado é certo... Não se depender de mim. Se tem que escolher um lado, eu fico do lado que eu acho certo! Fico com minhas crenças, valores e ideias. 'Ah, é só um desenho, não é nada demais'. Vai nessa que vai ver onde vamos parar", escreveu.

Não foi a primeira vez que ele se manifestou dessa maneira em suas redes sociais. Mas recentemente ele gravou um vídeo explicando que é conservador, de direita e que preza a família, explicando sua visão de mundo. "Lutar pelo que se acredita é para poucos! Pelos meus valores, crenças e propósitos eu irei até o fim! Custe o que custar", disse, citando valores da Bíblia.

Mas a polêmica acabou chegando nos dois patrocinadores do time do Minas, Fiat e Gerdau. Elas divulgaram notas oficiais repudiando as atitudes do jogador. "Estamos (...) cobrando as medidas cabíveis, de acordo com o nosso posicionamento inegociável diante do respeito à diversidade e à inclusão. Assim, a Fiat repudia qualquer tipo de declaração que promova ódio, exclusão ou diminuição da pessoa humana e espera que a instituição tome as medidas cabíveis e necessárias no mais curto espaço de tempo possível", informou a montadora italiana.

A Gerdau, que também tem seu nome associado ao time, repudiou as declarações preconceituosas. "Repudiamos qualquer tipo de manifestação de cunho preconceituoso ou homofóbico. Já solicitamos a posição oficial do clube sobre as tratativas necessárias ao caso para adotar as medidas cabíveis, o mais breve possível. Reforçamos nosso compromisso com a diversidade e inclusão, um valor inegociável para a companhia", comentou a empresa.

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O posicionamento dos dois patrocinadores do clube pressionou o Minas a tomar medidas mais duras para que não se prejudique ainda mais a imagem da equipe e tampouco fira as empresas que apoiam o time de vôlei. No dia anterior, a diretoria do clube já havia divulgado uma nota, mas sem ser muito incisiva. "Todos os atletas federados à agremiação têm liberdade para se expressar livremente em suas redes sociais. O clube é apartidário, apolítico e preocupa-se com a inclusão, diversidade e demais causas sociais", comentou.

Capitã do time feminino do Minas, Carol Gattaz também reprovou os comentários homofóbicos de Maurício Souza. "Homofobia é crime. Racismo é crime. Respeito é obrigatório. Está na lei. Garantido pela constituição. Já toleramos desrespeito, gracinhas e preconceitos disfarçados de opinião por muito tempo. Chega", exclamou a jogadora. A ex-líbero Fabi, bicampeão olímpica com a seleção brasileira, reforçou: "Homofobia é crime". Ela é homossexual e luta pelos direitos da comunidade LGBTQIA+. Sheilla e Thaisa, que também jogam no time feminino do Minas, fizeram o mesmo.

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