Um relatório lançado nesta terça-feira pelo sindicato mundial de jogadores profissionais de futebol (FifPro, na sigla em inglês) mostra que os níveis atuais no acúmulo de jogos no calendário de uma temporada, viagens longas e as curtas pausas entre as diversas competições são um fator prejudicial aos atletas, citando o alto risco no aumento de lesões. O estudo que teve por base uma amostra de 265 jogadores de 44 ligas, entre junho de 2018 e agosto de 2021, e concluiu que o número de partidas consecutivas — pelo menos, 45 minutos com menos de cinco dias de recuperação entre elas — cresceu nos últimos anos.
"Os dados mostram que devemos libertar a pressão sobre os jogadores e este relatório fornece novos dados sobre o porquê de precisarmos de mecanismos regulatórios e de fiscalização para os proteger. Este tipo de solução deveria estar no topo da agenda sempre que discutimos o desenvolvimento do calendário de jogos. É hora de priorizar a saúde e o desempenho dos atletas", disse Jonas Baer-Hoffman, secretário-geral da organização.
Ainda de acordo com o relatório, a maioria dos jogadores não tem tempo livre suficiente, mesmo com a redução das viagens causada pela pandemia da covid-19, e os atletas sul-americanos são os que sofrem mais com os deslocamentos. Alguns viajaram por mais de 200 mil quilômetros nos últimos três anos, uma distância equivalente a cinco voltas ao redor do planeta. E as competições de maior impacto foram as Eliminatórias da América do Sul para a Copa do Mundo (6,6 mil quilômetros de deslocamento médio) e o Mundial de Clubes da Fifa (6,4 mil quilômetros).
A FIFPro recomenda que se realizem duas pausas prolongadas ao longo da temporada, sendo a primeira de quatro semanas, entre o final de uma temporada e o começo de outra, e a segunda com um intervalo de duas semanas no meio da temporada, de forma a "salvaguardar o bem-estar físico e mental dos jogadores". Sugere-se também uma pausa obrigatória para os atletas depois de um certo número de partidas consecutivas.
"Isso é claramente fundamental. Sabemos que os jogos consecutivos aumentam o risco de lesões, isso já foi demonstrado várias vezes, inclusive pela Fifa. É claro que a saúde mental está associada a múltiplos jogos, e o nível de estresse tende a aumentar durante os período de jogos consecutivos. Há uma grande variedade de problemas e outros resultados do acúmulo de jogos", observou o australiano Darren Burgess, que trabalhou em clubes como Arsenal e Liverpool como chefe de performance e hoje é consultor do FifPro.
Tema ganha debate no Brasil
No Brasil, o assunto ganhou repercussão na última sexta-feira, quando jogadores de 19 times da Série A do Brasileirão, com exceção do Flamengo, enviaram um documento à (CBF) pedindo para que a competição não seja adiada e termine em dezembro deste ano. No documento, assinado pelos capitães das equipes, os atletas argumentam a necessidade de um período maior de descanso para que a temporada de 2022 não seja comprometida. De acordo com o pedido, o período de descanso entre a última e a atual temporada foi inferior a 30 dias, o que vai contra a Lei 9.615/98.
Em setembro, a CBF anunciou que o adiamento do Campeonato Brasileiro não iria terminar no dia 5 de dezembro, como previsto anteriormente, por causa do adiamento de jogos de clubes que cederam jogadores para a seleção brasileira disputar jogos das Eliminatórias. Entretanto, após a manifestação coletiva dos atletas, a entidade anunciou que não adiará os jogos dos clubes brasileiros que têm jogadores envolvidos na próxima Data Fifa.
A decisão afeta diretamente Flamengo, Atlético-MG, Palmeiras, São Paulo e Internacional, que comumente cedem atletas para a seleção brasileira. O vice-presidente de futebol do clube rubro-negro, Marcos Braz, ironizou a decisão da entidade e colocou em suas redes sociais a fala de Juninho Paulista sobre a promessa de pausa do Brasileirão