Publicidade

Pagamento de fiança milionária tirou Ronaldinho de cadeia e o levou para hotel no Paraguai

Segundo capítulo da série de reportagens sobre o período em que o ex-jogador esteve detido em Assunção mostra como ele conseguiu transferência para prisão domiciliar e os mimos que recebeu em sua nova 'morada'

PUBLICIDADE

Foto do author Raphael Ramos
Por Raphael Ramos
Atualização:

O segundo capítulo da série de reportagens feita pelo Estadão sobre o período em que Ronaldinho Gaúcho esteve preso no Paraguai acusado de usar passaporte falso para entrar no país mostra como, no mês de abril, o ex-jogador e o irmão convenceram as autoridades a permitirem que ambos fossem transferidos da cadeia a um hotel no centro de Assunção para cumprir prisão domiciliar. Também será possível conhecer detalhes do primeiro mês de estada dos brasileiros no hotel.

PUBLICIDADE

CAPÍTULO 2

Ronaldinho Gaúcho e o irmão Assis já estavam presos há mais de um mês na Agrupación Especializada, um quartel da Polícia Nacional adaptado em presídio, quando, no dia 7 de abril, enfim, eles conseguiram a primeira vitória na Justiça do Paraguai. O juiz Gustavo Amarilla decidiu mudar o regime de reclusão dos brasileiros, que ganharam o direito de transferência à prisão domiciliar em um hotel em Assunção.

Ronaldinho chegando ao hotel onde cumpriu prisão domiciliar Foto: Norberto Duarte/AFP

O que chamou atenção foi a mudança de estratégia dos advogados de Ronaldinho e seu irmão, sobretudo do ponto de vista financeiro. No mês anterior, eles haviam dado como garantia um imóvel que serviria como prisão domiciliar, no valor de US$ 770 mil (cerca de R$ 4,1 milhões). Mas o juiz entendeu que, se ambos saíssem da cadeia, poderiam prejudicar as investigações de uso de passaporte falso e outros crimes. Já o promotor Marcelo Pecci falou explicitamente que o problema era financeiro. "Ronaldinho ganhou muito mais do que US$ 770 mil em sua carreira", justificou.

Ronaldinho ganhou muito mais do que US$ 770 mil em sua carreira

Marcelo Pecci, promotor

Foi, então, que os advogados de Ronaldinho resolveram oferecer o pagamento de uma fiança de US$ 1,6 milhão (aproximadamente R$ 8,3 milhões) e indicaram que ele e Assis iriam morar no Hotel Palmaroga, um dos mais luxuosos da capital paraguaia, a 3,3 quilômetros da cadeia onde os irmãos estavam detidos há 32 dias. O juiz aceitou a nova e maior proposta e permitiu que os brasileiros ficassem em prisão domiciliar enquanto aguardavam a sequência das investigações e o julgamento.

Com as fronteiras do Paraguai fechadas e severas medidas de isolamento social implantadas pelo governo por causa da pandemia do novo coronavírus, Ronaldinho e o irmão eram praticamente os únicos hóspedes de um hotel de 107 quartos. De estilo colonial, o hotel fica em um edifício de 6.000 m², reconstruído em 2019, mas que conserva a fachada de 1900. O ex-jogador ficou em uma suíte com cama king-size, TV de 55 polegadas e banheira de hidromassagem, entre outros mimos. A diária custava 380 dólares (mais de R$ 2 mil).

Para manter a forma física, Ronaldinho ia à academia todos os dias. A seu pedido, uma sala com cerca de 150 m² foi adaptada para que o ex-jogador pudesse se divertir com uma bola e jogar futebol. "Habilitamos a sala para suas brincadeiras e embaixadinhas", declarou o Emilio Yegros, gerente do hotel.

Publicidade

Foi no período em que esteve no Palmaroga que Ronaldinho quebrou o silêncio e recebeu jornalistas paraguaios da TV ABC para conceder sua primeira entrevista desde a prisão. O ex-jogador declarou que não sabia que os passaportes eram falsos e que estava disposto a contribuir com as autoridades locais.

Enquanto isso, a prisão de Ronaldinho virou um escândalo nacional e provocou uma devassa em órgãos estratégicos do governo paraguaio. Foram indiciadas pelo Ministério Público 16 pessoas, incluindo servidores da Polícia, do Banco Nacional de Fomento, da Direção Nacional de Aeronáutica Civil e da Direção Geral de Imigração, departamento responsável pela entrada e saída de estrangeiros no país. As autoridades prenderam 15 pessoas. A única foragida era a empresária Dalia López. Apontada como peça-chave da suposta organização criminosa, ela foi a responsável por fazer o convite para Ronaldinho ir ao Paraguai.

TERCEIRO CAPÍTULO

Nesta quinta-feira, o Estadão mostrará que, no mês de maio, após o relaxamento de parte das medidas de isolamento social no Paraguai e a retomada de atividades do Poder Judiciário, os advogados de Ronaldinho Gaúcho e de seu irmão, Assis, entraram com novo recurso na tentativa de anular o processo que levou ambos à prisão pelo uso de passaportes falsos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.