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Halo reforçado e macacão 20% mais eficiente: entenda como Grosjean sobreviveu à batida e ao incêndio

Tecnologia recente da Fórmula 1 salva piloto de ter complicações maiores após acidente grave no GP do Bahrein

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Por Ciro Campos
Atualização:

Duas recentes evoluções tecnológicas da Fórmula 1 foram as responsáveis por salvar a vida do francês Romain Grosjean, que sobreviveu a um grave acidente durante o GP do Bahrein, no último domingo. Se não fossem o halo fixado ao cockpit e o macacão aprimorado para aguentar por mais tempo as chamas, o piloto da Haas teria sérias complicações. Agora ele se recupera no hospital e deve ter alta nesta terça-feira.

O forte impacto do francês no guard-rail seguido de um incêndio mostraram ao mundo do automobilismo o quanto os carros atuais estão mais seguros. Segundo o diretor médico do GP Brasil de Fórmula 1 e vice-presidente da comissão médica da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), Dino Altmann, a situação de Grosjean é bastante animadora diante da gravidade do episódio. 

Carro de Grosjean ficou carbonizado depois do acidente Foto: Tolga Bozoglu/AFP

"O halo foi o fator principal para ele escapar com vida. Antes existia um medo de que com uma batida tivesse a deformação do halo e que isso dificultaria a remoção do piloto. Mas agora ficou atestado nesse acidente que o resultado foi muito bom", explicou ao Estadão. O halo é utilizado de forma obrigatória desde 2018 na Fórmula 1 e foi desenvolvido para ser fixado ao cockpit e proteger a cabeça do piloto. Em tradução livre para o português, a peça se chama aréola.

O halo foi o fator principal para ele escapar com vida. Antes existia um medo de que com uma batida tivesse a deformação do halo e que isso dificultaria a remoção do piloto. Mas agora ficou atestado nesse acidente que o resultado foi muito bom

Dino Altmann, Vice-presidente da comissão médica da FIA

A inovação foi trazida para evitar acidentes como o sofrido por Felipe Massa, em 2009, quando uma mola se soltou de outro carro e o atingiu na cabeça durante uma volta. Inicialmente o halo recebeu críticas por deixar os carros mais feios e interferir na visão dos pilotos. Alguns até mesmo debocharam que a peça parecia a alça existente em chinelos de dedo. "O halo é o resultado de vários acidentes que tivemos no passado em que a cabeça do piloto foi atingida", explicou Altmann.

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A importância do halo foi comprovada porque na hora da batida, o carro do francês atravessou o guard-rail. Caso não fosse a peça, a cabeça do piloto estaria mais exposta no momento em que a barreira foi "rasgada" pela Haas. "Eu não era fã do halo, mas sem ele eu não conseguiria estar aqui falando com vocês hoje", disse o francês em vídeo gravado dentro do hospital.

O halo foi desenvolvido após uma bateria de testes. O acessório é feito de titânio, pesa cerca de 14 quilos e aguenta até aproximadamente 12 toneladas de impacto. Os engenheiros garantiram que a peça sozinha é capaz de suportar o peso de um ônibus de dois andares. Após ser implantado na categoria em 2018, apenas agora houve de fato um acidente capaz de mostrar a importância da ferramenta.

Halo foi introduzido na Fórmula 1 em 2018 Foto: Arte/Estadão

De acordo com Altmann, assim como o halo foi resultado de lições aprendidas em acidentes anteriores, a batida de Grosjean certamente vai motivar outras inovações. "Para todo e qualquer acidente, a FIA faz uma análise minuciosa. Isso inclui avaliar desde o primeiro instante até a resposta das equipes de segurança. Com certeza vamos responder com algumas soluções para o futuro", explicou.

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MACACÃO MAIS RESISTENTE

Além da batida, o francês teve de sobreviver também ao fogo. As imagens da TV mostraram que entre o início das chamas e a saída do carro, o piloto levou cerca de 28 segundos. Parte desse tempo ele esteve diretamente exposto às labaredas e, por isso, recebe cuidados agora no hospital para tratar de queimaduras nas mãos. 

Dino Altmann é o diretor médico do GP Brasil de Fórmula 1 e vice-presidente da comissão médica da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) Foto: José Patrício/Estadão

A situação só não foi mais perigosa porque novamente uma inovação recente da Fórmula 1 ajudou o francês. "O macacão atual está mais resistente ao calor. Pode parecer ridículo, mas antes o tempo de resistência do macacão ao fogo era de 10 segundos. No ano passado, passou para 12 segundos. Esse ganho de 20% é importante. Essa conta entra na matemática de sucesso do acidente", explicou Altmann. 

O macacão atual está mais resistente ao calor. Pode parecer ridículo, mas antes o tempo de resistência do macacão ao fogo era de 10 segundos. No ano passado, passou para 12 segundos

Dino Altmann, Vice-presidente da comissão médica da FIA

Segundo o médico, as mãos dos pilotos estão mais expostas ao fogo porque as luvas têm somente uma camada de proteção, enquanto os macacões têm três. A diferença se explica pela necessidade de os competidores terem sensibilidade na palma das mãos para conduzirem o volante. Toda a vestimenta deles é preparada para evitar chamas. Até mesmo peças como meias e ceroulas são feitas de materiais especiais.

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